segunda-feira, 12 de junho de 2017

A pobreza da ingratidão e o diploma da santidade


      Um dos sentimentos mais dolorosos que uma pessoa pode vivenciar é a ingratidão. Muito mais que a ira ou o desamor, a ingratidão é como um ácido que corrói profundamente por dentro, afectando o coração do individuo que sofreu tal dissabor: Porém, como vicentinos que somos, ao buscarmos a santidade, temos que estar acima desse sentimento nocivo, que às vezes percebemos no momento da visita, no relacionamento com as famílias assistidas e até no seio da nossa entidade.
      Certa vez, um Conferência, por ocasião do Dia das Mães, decidiu doar Kits de cremes para embelezar as mães assistidas. Grande foi a surpresa quando nem todas as senhoras beneficiadas disseram uma palavra de agradecimento, como por exemplo: “muito obrigada!”. Nem um sorriso, nem uma demonstração de afecto. Na verdade, são pessoas sofridas, que nem sempre têm forças ou ânimo para a vida; mas daí demonstrar tamanha indiferença, é uma dor muito forte para quem proporcionou aquele gesto genuíno de caridade.
      O próprio Jesus Cristo também “reclamou” dos ingratos. Ele mesmo, que era Deus, após curar dez leprosos, indagou porque apenas um havia regressado para agradecer. E Jesus perguntou: “Onde estão os outros nove?” (Lucas 17,17). Na caminhada vicentina, muitos “leprosos” passarão por nós, mas poucos serão agradecidos. É bem verdade que fazemos esse trabalho de caridade sem buscar reconhecimento ou gratidão; tais sentimentos são humanos e fazem parte da educação das pessoas. O que pode nos consolar, um pouco, é que uma pessoa ingrata é também vítima do problema, pois não teve acesso à cultura.
      Ser grato a uma pessoa pode ser algo tão simples para muitos, especialmente àqueles que tive acesso à educação e nasceram numa família que lhes ensinou valores, princípios e posturas socias. É bem verdade que boa parte dos socorridos de nossas Conferências não possui essas características. É por isso que, juntamente com as cestas de alimentos e outros bens materiais, os vicentinos devem levar “exemplos”, “conselhos”, “orientações” e, acima de tudo, “ensinamentos”. Tudo o que dissermos de valores e virtuoso a um assistido produzirá frutos no futuro.
      Contudo, uma certeza pode-se ter: da mesma maneira que Jesus ofereceu a “outra face” a quem lhe quisesse machucar (Mateus 5,39), a ingratidão com que, às vezes, estamos sujeitos (pelos assistidos, por alguns representantes da Igreja e pelos próprios companheiros de caminhada vicentina), será a chave para abrirmos as portas do paraíso. Essa ingratidão nos condecorará com um “diploma invisível de santidade”, que São Vicente e Ozanam nos entregará quando estivermos entrando nos céus, um dia.
      Qual é o pior defeito do ser humano? – Como podemos lidar com essa situação nos trabalhos vicentinos, especialmente junto aos assistidos?

Crónicas Vicentinas IV Cgi. Renato Lima 

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