quarta-feira, 21 de junho de 2017

O legado de Ozanam para os dias de hoje

      As Cartas de Ozanam foram os primeiros textos, além da Regra Vicentina, pelos quais tive a satisfação de conhecer o pensamento deste extraordinário e santo homem chamado António Frederico Ozanam, modelo de jovem, adulto, pai, profissional, marido, cidadão e fiel leigo comprometido.

      Em Cartas, Ozanam pode comunicar-se com liberdade e desenvoltura, dirigindo-se com simplicidade a seus amigos, conhecidos, parentes, religiosos e académicos. Até nas missivas de cunho profissional, encontramos o “tempero” das virtudes tão caras a Ozanam, sempre com elegância nas palavras, caridade no aconselhamento e esperança na mudança das estruturas sociais.

      Suas Cartas são estimulantes, reconfortantes, pedagógicas e, acima de tudo, verdadeiras orações. As frases que citamos, hoje em dia, mais expressivas de Ozanam, foram colhidas justamente das correspondências que ele escreveu. Que riqueza, que legado, que presente divino!

      Não podemos deixar de reconhecer o grande esforço literário que a família de Ozanam empreendeu para poder recolher os escritos dele, consolidando-se em livros. Sem essa investigação histórica, talvez hoje não pudéssemos saborear esse lindo conteúdo. Também não podia ser diferente: os ascendentes de Ozanam eram e literatos, assim como seus descendentes. Considero que o Espírito Santo, soprou forte sobre esta família, brindando-a com as características de perpetuação da memória e da transmissão do conhecimento. A humanidade agradece!

      As Cartas que Ozanam escreveu ao longo do século XIX são pérolas para nossa realidade. É como se ele tivesse deixado “sinais” para as gerações futuras sobre a maneira evangélica e caritativa de superar as dificuldades e ajudar àqueles que estão em situação de vulnerabilidade e de exclusão social. Ozanam, visionário e vanguardista, deixa para a posteridade suas Cartas e nos recomenda práticas adequadas para o mundo de hoje, tão maltratado pelo egoísmo, pela ganância, pelo poder e pelos holofotes da fama passageira.

      A leitura das Cartas de Ozanam nas Conferências Vicentinas é sempre propícia, especialmente quando celebramos a data do nascimento do principal fundador da sociedade de São Vicente de Paulo ou da criação da entidade. São datas memoráveis que não podemos passar em branco.

      Por fim gosto sempre de encerrar meus textos com algumas perguntas, para que nós, vicentinos do século XXI, possamos também refletir sobre a postura que adotamos, na condição de imitadores de Ozanam. Utilizamo-nos dos meios de comunicação, pessoais e coletivos, analógicos ou digitais, para disseminar a cultura da caridade? Usamos as redes sociais e a mídia para propagar a Boa Nova e libertar os oprimidos? Limitamo-nos a criticar o sistema económico e político, e não fazemos nada de concreto para alterá-lo o oferecer caminhos alternativos?

      Se Ozanam estivesse fisicamente entre nós, hoje, o que ele faria? Quantos e-mails (que são as “cartas virtuais” dos tempos presentes), não teria ele enviado aos quatro cantos do mundo para defender e proteger os mais necessitados? Somos vicentinos e, portanto, temos que ser “espelho” de Ozanam, usando especialmente as novas tecnologias a serviço dos Pobres.

      
Cronicas vicentinas de Renato Lima, Cgi

A pobreza da ingratidão e o diploma da santidade

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       Um dos sentimentos mais dolorosos que uma pessoa pode vivenciar é a ingratidão. Muito mais que a ira ou o desamor, a ingratidão é como um ácido que corrói profundamente por dentro, afectando o coração do individuo que sofreu tal dissabor: Porém, como vicentinos que somos, ao buscarmos a santidade, temos que estar acima desse sentimento nocivo, que às vezes percebemos no momento da visita, no relacionamento com as famílias assistidas e até no seio da nossa entidade.
      Certa vez, um Conferência, por ocasião do Dia das Mães, decidiu doar Kits de cremes para embelezar as mães assistidas. Grande foi a surpresa quando nem todas as senhoras beneficiadas disseram uma palavra de agradecimento, como por exemplo: “muito obrigada!”. Nem um sorriso, nem uma demonstração de afecto. Na verdade, são pessoas sofridas, que nem sempre têm forças ou ânimo para a vida; mas daí demonstrar tamanha indiferença, é uma dor muito forte para quem proporcionou aquele gesto genuíno de caridade.
      O próprio Jesus Cristo também “reclamou” dos ingratos. Ele mesmo, que era Deus, após curar dez leprosos, indagou porque apenas um havia regressado para agradecer. E Jesus perguntou: “Onde estão os outros nove?” (Lucas 17,17). Na caminhada vicentina, muitos “leprosos” passarão por nós, mas poucos serão agradecidos. É bem verdade que fazemos esse trabalho de caridade sem buscar reconhecimento ou gratidão; tais sentimentos são humanos e fazem parte da educação das pessoas. O que pode nos consolar, um pouco, é que uma pessoa ingrata é também vítima do problema, pois não teve acesso à cultura.
      Ser grato a uma pessoa pode ser algo tão simples para muitos, especialmente àqueles que tive acesso à educação e nasceram numa família que lhes ensinou valores, princípios e posturas socias. É bem verdade que boa parte dos socorridos de nossas Conferências não possui essas características. É por isso que, juntamente com as cestas de alimentos e outros bens materiais, os vicentinos devem levar “exemplos”, “conselhos”, “orientações” e, acima de tudo, “ensinamentos”. Tudo o que dissermos de valores e virtuoso a um assistido produzirá frutos no futuro.
      Contudo, uma certeza pode-se ter: da mesma maneira que Jesus ofereceu a “outra face” a quem lhe quisesse machucar (Mateus 5,39), a ingratidão com que, às vezes, estamos sujeitos (pelos assistidos, por alguns representantes da Igreja e pelos próprios companheiros de caminhada vicentina), será a chave para abrirmos as portas do paraíso. Essa ingratidão nos condecorará com um “diploma invisível de santidade”, que São Vicente e Ozanam nos entregará quando estivermos entrando nos céus, um dia.

      Qual é o pior defeito do ser humano? – Como podemos lidar com essa situação nos trabalhos vicentinos, especialmente junto aos assistidos? 


Cronicas vicentinas de Renato Lima do Cgi

segunda-feira, 12 de junho de 2017

A pobreza da ingratidão e o diploma da santidade


      Um dos sentimentos mais dolorosos que uma pessoa pode vivenciar é a ingratidão. Muito mais que a ira ou o desamor, a ingratidão é como um ácido que corrói profundamente por dentro, afectando o coração do individuo que sofreu tal dissabor: Porém, como vicentinos que somos, ao buscarmos a santidade, temos que estar acima desse sentimento nocivo, que às vezes percebemos no momento da visita, no relacionamento com as famílias assistidas e até no seio da nossa entidade.
      Certa vez, um Conferência, por ocasião do Dia das Mães, decidiu doar Kits de cremes para embelezar as mães assistidas. Grande foi a surpresa quando nem todas as senhoras beneficiadas disseram uma palavra de agradecimento, como por exemplo: “muito obrigada!”. Nem um sorriso, nem uma demonstração de afecto. Na verdade, são pessoas sofridas, que nem sempre têm forças ou ânimo para a vida; mas daí demonstrar tamanha indiferença, é uma dor muito forte para quem proporcionou aquele gesto genuíno de caridade.
      O próprio Jesus Cristo também “reclamou” dos ingratos. Ele mesmo, que era Deus, após curar dez leprosos, indagou porque apenas um havia regressado para agradecer. E Jesus perguntou: “Onde estão os outros nove?” (Lucas 17,17). Na caminhada vicentina, muitos “leprosos” passarão por nós, mas poucos serão agradecidos. É bem verdade que fazemos esse trabalho de caridade sem buscar reconhecimento ou gratidão; tais sentimentos são humanos e fazem parte da educação das pessoas. O que pode nos consolar, um pouco, é que uma pessoa ingrata é também vítima do problema, pois não teve acesso à cultura.
      Ser grato a uma pessoa pode ser algo tão simples para muitos, especialmente àqueles que tive acesso à educação e nasceram numa família que lhes ensinou valores, princípios e posturas socias. É bem verdade que boa parte dos socorridos de nossas Conferências não possui essas características. É por isso que, juntamente com as cestas de alimentos e outros bens materiais, os vicentinos devem levar “exemplos”, “conselhos”, “orientações” e, acima de tudo, “ensinamentos”. Tudo o que dissermos de valores e virtuoso a um assistido produzirá frutos no futuro.
      Contudo, uma certeza pode-se ter: da mesma maneira que Jesus ofereceu a “outra face” a quem lhe quisesse machucar (Mateus 5,39), a ingratidão com que, às vezes, estamos sujeitos (pelos assistidos, por alguns representantes da Igreja e pelos próprios companheiros de caminhada vicentina), será a chave para abrirmos as portas do paraíso. Essa ingratidão nos condecorará com um “diploma invisível de santidade”, que São Vicente e Ozanam nos entregará quando estivermos entrando nos céus, um dia.
      Qual é o pior defeito do ser humano? – Como podemos lidar com essa situação nos trabalhos vicentinos, especialmente junto aos assistidos?

Crónicas Vicentinas IV Cgi. Renato Lima