sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Modelo Família Vicentina - Sena de Freitas

Sena de Freitas
(1840 - 1913)

  Sena de Freitas, de nome completo, José Joaquim Sena de Freitas, nasceu em Vila Franca do Campo, Ponta Delgado, na Ilha de S. Miguel, no dia 21 de Julho de 1840. Era filho do historiador Bernardino José de Sena de Freitas e da, Casa da Congregação da Missão,  Maria josé de Brito Mascarenhas que faleceu cedo, deixando José Joaquim com três anos apenas sem os cuidados e aconchegos maternos, o que terá influenciado o pequeno Sena de Freitas no seu temperamento que se tornou inquieto, ansioso, rebelde até.
  Mas logo de pequeno se revelou, já na escola, forte personalidade, grande inteligência e ousadia de opinião. Como também logo cedo revelou forte inclinação para a religião, tendo-se tornado, por vontade própria, Menino do Coro da Igreja local, organizando devoções na Ermida de Nossa Senhora da Vitória, tendo especial atenção satisfação em tocar o sino da Igreja.
  Em Santarém fez os seus estudos secundários que veio a concluir no Seminário de Coimbra em 1858, tendo seguido para Paris, aí se instalando em São Lázaro, Casa da Congregação da Missão, fundada por São Vicente de Paulo, em cuja mística se deixou mergulhar. Aí concluiu o seu curso de Teologia, Tendo feito votos em 1862, embarcando para o brasil em 1865, onde missionou. Professor em Santa Quitéria, já em Portugal (1878), mas frequentemente doente e sem facilidade de adaptação a uma vida de comunidade, várias vezes pediu demissão de votos, embora tenha ficado sempre em óptimas relações com a Congregação cujo Provincial muito o apreciava.
  Em Portugal, como professor de um pequeno Colégio na Estefânia, celebrava missa em Arroios, instalando-se sempre, nas terras por onde peregrinava, nas casas dos lazaristas.
  Sena de Freitas, sempre lutador pelos seus ideais sociais e políticos, legitima como seu pai, era escritor de raça e primoroso cultor da língua.
  Inúmeras foram as obras que escreveu de que citamos:

  •   O milagre e a crítica moderna.
  •   No presbitério e no templo - 2 volumes, em 2 edições.
  •   Evangelho segundo Renan.
  •   Tenda do Mestre Luvas (romance original).
  •   A carta e o homem da carta.
  •   O sacerdócio eterno.
  •   A palavra do semeador - 3 volumes.
  •   Conversa sobre patriotismo hodierno. 
  •   Discursos.
  •   A religião em face da política.
  •   Orações fúnebres:
  •            - a José Bonifácio;
  •            - D. Luis I;
  •            - ao Conde de S. Salvador de Matosinhos;
  não esquecendo a defesa que fez contra António Enes quando este atacou a Congregação da Missão. 
  Embora dado às letras, chegara à conclusão que a Caridade estava à frente e acima das letras em que, aliás, fulgurantemente se impunha. Por isso a sua paixão pela mítica vicentina.
  Sena de Freitas não parava de viajar fosse por terra, fosse por água, desde Paris e Londres até aos sertões do Brasil, ou jornadas muitas vezes incómodas por Portugal. 
  Ainda em 1859, Sena de Freitas, junto do Padre Miel, trabalhou pela fundação da 1.ª Conferência de São Vicente de Paulo em Portugal - a Conferência São Luís, Rei de França, fundada em Lisboa; colaborou com o engenheiro Barros Gomes na tradução do velho Manuel da sociedade de S. Vicente Paulo. Em 1877, passado por Braga, aí fundou uma conferência (a 3.ª em Portugal). Em 1879, após uma reunião no palacete da Condessa de Azevedo, com 300 presenças, falou de tal maneira sobre a vocação e missão da S.S.V.P, que logo foi fundada no Porto a Conferência da Imaculada Conceição, em Santo Ildefonso, a 4ª Conferência em Portugal.
  Em Guimarães, foi violentamente atacado por gente de feição maçónica, porque efectuara uma sessão no palacete do Conde de Vila Pouca e não na Igreja. Retorquiu que faria a reunião em qualquer espaço, ainda que um barracão, se tivesse iguais dimensões.
  Em 1880, passando por Penafiel, aí fundou a Conferência de Nossa Senhora do rosário e, seguindo até Coimbra, nesse mesmo ano, iria fazer nascer aí 1.ª Conferência Académica.
  Aí começou por procurar D. Manuel Correia de Bastos Pina, o Arcebispo-Conde, que se entusiasmou com a fundação de uma conferência vicentina para a qual se propôs como Presidente.
  Sena de Freitas compreendeu que o bondoso prelado desconhecia o carácter leigo da sociedade.
  Abordou então o Catedrático Dr. Lino, seu amigo e falou ainda com o seu velho amigo Almeida Silvano, futuro professor de Seminário de Lamego.
  É numa sala do palácio dos Coutinhos falou aos estudantes. Assim fundou a 1.ª Conferência Académica.
  Ainda em 1884, contribuiu para a instituição em Lisboa do primeiro Conselho Particular da sociedade em Portugal.
  Modelo vicentino, sem dúvida, porque o seu espírito vicentino motivou inúmeras vocações e adesões à sociedade de São Vicente de Paulo.
  Mas doente, perseguido pelas suas ideias, muito sofreu no Brasil, onde morreu em 1913.
  Sofreu muito, lutou muito. Escreveu e trabalhou muito. Serviu muito. Amou muito.
  Quando morreu tinha acabado de escrever as palavras - "Jesus Cristo", esse Jesus simples, sem coroa, apenas servidor e amante dos pobres, como o de São Vicente de Paulo...
  Sena de Freitas foi, mais tarde, justamente e publicamente apreciado. Não só na congregação dos Provinciais pelos Superiores, pela própria Igreja em que chegou a ser Cónego da Sé Patriarcal de Lisboa, como várias cartas e artigos a ele se referiram elogiosamente, tendo, em 19 de Dezembro de 1921, sido promovido pela Juventude Católica uma homenagem à memória do padre Sena de Freitas, homenagem presidida pelo Padre Anaquim, tendo discursado o Conselheiro Fernando de Sousa, o aluno da Faculdade de Direito, Francisco Manuel dos Reis e o publicista Zuzarte de Mendonça.
  Finalmente em 26 de Julho de 1968, foi elevada, em Ponta Delgada, no jardim com o seu nome, uma estátua a este polígrafo açoriano, estátua da autoria do escultor Numídeco Bessone, também açoriano.
  José Joaquim Sena de Freitas, sem dúvida modelo vicentino, imitado e seguido por tantos, sobretudo pelos que vieram a formar as Conferências de São Vicente de Paulo, que fundou e fez fundar, de cujo espírito vicentino foi o grande propagador em Portugal, espírito até então desconhecido.