sábado, 29 de outubro de 2016

CARTA DE OZANAM - 19-07-1853


Antignano, 19 de Julho de 1853

Meu Reverendo Padre e querido Amigo

   É preciso que, de futuro, permitais que vos atribua estes dois títulos. Por um lado, não posso abstrair do respeito que toda a Itália vos dedica e de que vos vi rodeado nesta boa cidade de Siena. Ao mesmo tempo, como não sentiria a mais doce amizade, o mais vivo reconhecimento por todas as bondades de que acabais de cumular-me, bem como aos meus? Como fazeis? Que largueza de coração, que presença de espírito Deus vos concedeu e qual é o vosso segredo para multiplicar o tempo? Tendes o triplo encargo dos surdos-mudos de toda a Toscana, de uma das maiores escolas italianas, o colégio Tolomei, de uma cadeira na Universidade: sois o Padre de Siena e não há um canto de rua, uma porta, onde não tenhamos encontrado algum dos vossos protegidos. Enfim, ocupai-vos de toda a gente e no entanto eis que chegamos, cinco estrangeiros caem sobre vós e durante quatro dias apenas viveis para nós; sois a nossa providência. Formamos um cortejo lastimoso; trazemos connosco mulher, doente, criança; cada um encontra aquilo de que precisa perfeitamente previsto e preparado: alojamento, alimentação, distracção, edificação, a parte da alma, a parte do corpo, o necessário e o agradável. Enfim, apenas temos que nos deixar viver nesta bem-aventurada Siena, onde se narra que tantos santos foram servidos pelos anjos. Nós não somos santos; mas, por certo, um bom anjo nos serviu. Finalmente, partimos carregados de presentes e de lembranças: eu, com o vosso belo Elogio de novo publicado e o vosso volume da Língua lombarda e sobretudo o vosso retrato: Amélia, com Santa Catarina e a pequena Maria com tantas coisas que mais valeria transportar o Palácio da comuna. 

   Pois bem, meu reverendo Padre, tudo que fizeste pela minha pequena família e por mim próprio sensibiliza-me menos do que a esperança que me destes em relação a S. Vicente de Paulo. Esta querida Sociedade é também a minha família. Foi ela, depois de Deus, que me conservou na fé, quando deixei os meus bons e piedosos pais. Amo-a e estou-lhe ligado pelo mais profundo do coração: fiquei radiante por ver a boa semente germinar nesta terra da Toscana. 

   Mas, sobretudo, vi-a fazer tanto bem, sustentar na virtude um tão grande número de jovens, acender num mais pequeno número um zelo tão maravilhoso! Temos conferências em Québec e no México. Temo-las em Jerusalém. Temos também, seguramente, uma conferência no paraíso, pois mais de um milhar dos nossos, durante estes vinte anos da nossa existência, tomaram o caminho de uma vida melhor. Portanto como deixar de ter uma conferência em Siena, a que se chamava a ante-câmara do paraíso? Na cidade da Virgem santa, como não veríamos o êxito de uma obra que tem a Virgem santa como principal padroeira? E, sobretudo, como não teríamos êxito no colégio Tolomei, onde nossa jovem iniciativa crescerá sob a vossa mão, discretamente, sem os inconvenientes de uma publicidade precoce?  

   Tendes crianças ricas, Oh, meu padre, a lição útil para fortificar estes corações amolecidos será o benéfico espetáculo de lhes mostrar os pobres, de lhes mostrar Nosso Senhor Jesus Cristo não somente nas imagens pintadas pelos grandes mestres, ou sobre altares brilhantes de ouro e de luz, mas mostrar-lhes Jesus Cristo e as suas chagas na pessoa dos pobres. Muitas vezes falamos da fraqueza, da frivolidade, da nulidade dos homens, mesmo cristão, na nobreza de França e da Itália. Mas estou certo de que eles são assim porque uma coisa faltou à sua educação; há uma coisa que não lhes foi ensinada, uma coisa que apenas conhecem de nome e que é preciso ter visto suportar aos outros, para aprender a sofrê-la quando ela vier, cedo ou tarde. Esta coisa é a dor, é a privação, é a necessidade. É preciso que estes jovens senhores saibam o que é a fome, a sede, a indigência de umas águas-furtadas. É preciso que ele vejam miseráveis, crianças doentes, crianças a chorar. É preciso que as vejam e que as amem. Ou este quadro provocará algum sobressalto no seu coração, ou esta geração está perdida. Mas nunca se deve acreditar na morte de uma jovem alma cristã. Ela não está morta, mas dorme.

   Meu caro e respeitável amigo, envio-vos com o Boletim da sociedade de S. Vicente de Paulo uma excelente instrução sobre a formação das conferências nas casas de educação. Certamente, a vossa experiência não tem necessidade de ser esclarecida e podereis adaptar o nosso pequeno trabalho à vossa grande casa, sem deixar de nos estar unido e de fazer lucrar aos vossos alunos as ricas indulgências concedidas à Sociedade de S. Vicente de Paulo. Em breve os vossos melhores jovens, divididos em pequenas esquadras de três ou quatro acompanhados de um professor, irão subir a escada do indigente; vê-lo-eis regressar ao mesmo tempo tristes e felizes; tristes por causa de mal que terão visto, felizes por algum bem que terão praticado. Alguns irão conduzir-se talvez friamente, sem inteligência; mas outros hão-se exaltar-se com um entusiasmo que transportarão às cidades onde não existem conferências, ou então irão reanimar as conferências mais antigas de Florença, de Génova, de Milão, de Roma; e de todas as suas boas ações, uma parte virá acrescentar-se à coroa de Deus prepara para o Padre Pendola, mas que Ele concederá, assim o espero, o mais tarde possível.
   Apercebo-me de que renovo o provérbio francês: «Gros-Jean veut prêcher son curé» (1). Não, meu Padre, não estou a pregar-vos; é o vosso exemplo, é a vossa caridade que me prega, que me aconselha a ter confiança em vós e a colocar esta obra nas vossas mãos.


(1)    - Big John quer que o seu pastor pregar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

CARTAS DE OZANAM - 24-06-1819 e 17-01-1820

"Informação prévia do" 
«Conselho de Zona Gaia Norte»

Estou a ter oportunidade de poder ler as Cartas de Ozanam, pela informação serão 90 documentos das 1335 cartas do espólio deixadas escritas mas só darei a conhecer pelo autor do livro 30 cartas... Pela informação recolhida, as cartas de Ozanam, foram publicadas nos Boletins da S.S.V.P. em meados de Abril 1989 pelo então o Conselho Central Masculino do Porto.
O tempo passa, 27 anos percorridos, como eu as cartas serão desconhecidas da maior parte dos vicentinos pelo menos os mais novos, entendemos voltar a publica-las, com um intervalo de máximo 8 dias, percorrendo num total de 24 semanas, esperando que os caros visitantes e vicentinos passem a ser uns fieis leitores.
Sumário das Cartas:Tem as datas seguidas, a primeira; a seu pai em Lião, 24 de Junho de 1819 a segunda, 17 de Janeiro de 1820. 
Hoje só publicarei duas primeiras, serão curtas dado ao extenso das explicações prévias, depois serão publicadas as cartas sem comentários.

Cabe aqui realçar autor desta obra: -  Diogo Castelbranco de Paiva Brandão, Lisboa 1996, tendo em conta o interesse e a actualidade dos assuntos versados que determinou as escolhas das leituras:
a) delineamento do perfil psicológico do autor e traços dominantes de personalidade;
b) conhecimento de factos, acontecimentos da vida pessoal e familiar;
c) esclarecimento de factos, acontecimentos e personagens ligadas à criação da Conferência da Caridade e à fundação da Sociedade São Vicente de Paulo.
d) registo das impressões deixadas em Ozanam pelos factos e acontecimentos anteriores referidos, personalidades e ainda pelos sucessos da vida social, política, universitária, religiosa, etc., que foi testemunha ou em que participou.

António Frederico Ozanam
Retrato de juventude


«CARTAS DE OZANAM»


Lião, 24 de Junho de 1819

   Querido Papá

   Uma vez que o Frederico começa a rabiscar, ele quer usar as propícias da sua caneta para festejar o seu paizinho, por ocasião do São João; no ano passado o vento levou a saudação que te dirigi, mas desta vez este papel metido na tua pasta não há-de voar e dir-te-á para sempre que o teu Frederico ama-te de todo o seu coração.

FREDERICO OZANAM



Lião, 17 de Janeiro de 1820

   Querido Papá

   Desejaria que o dia de Santo António fosse um dia de prazer, visto ser a tua festa, não sei como fazer para bem a celebrar, apenas posso dar-te muitos beijos e repetir milhares de vezes: desejo-te uma boa festa; rezarei a Santo António, que de algum modo é um dos meus amigos, visto que é meu patrono, para que peça a Deus que te conserve uma longa vida, uma boa saúde e sou com respeito o teu respeitoso filho.


FREDERICO OZANAM

sábado, 17 de setembro de 2016

A B C - VICENTINO






PARA TI ... QUE SÓ AGORA ENTRASTE EM CONTACTO CONNOSCO

A minha antecessora, Sr.ª D. Maria Angélica Corte-Real, teve a feliz ideia de um dia preparar um pequeno opúsculo que servia para todos aqueles que não conhecem a SSVP, não conhecem o trabalho que se faz e como se faz numa Conferência (célula base da nossa Sociedade) nos passarem a conhecer e, como tal, a amar o trabalho que fazemos a juntarem-se a nós neste mundo, por vezes tão adverso, em que vivemos e que tanta necessidade tem de amor. 

A 2.ª edição foi melhorada e tornada de mais fácil leitura.

Espero que a experiência nos ajude agora a tornar esta 3.ª edição ainda mais simples e com um incentivo que mostre bem o retrato do que estamos a fazer e como o fazemos.

Esperamos que entendamos que, no mundo actual, já não é possível fazer o trabalho da forma como o fazíamos, como quando nascemos há 168 anos. Algumas das misérias d eentão repetem-se nos nossos dias, mas há muitas outras que foram aparecendo e se generalizando. A solidão é uma das maiores e aí nós podemos dizer presente e mitigá-la. A toxicodependência e todas as misérias que a acompanham não nos podem ser indiferentes. A tristeza dos sem abrigo, dos doentes sem visita nos hospitais, dos idosos isolados em lares, dos presos sem visita e ...
Em todos os lugares onde houver um carenciado aí deve estar presente um vicentino. Que Deus nos ajude a sermos capazes de deixar os nossos egoísmos e preconceitos e darmo-nos com amor ao próximo.

Manuel Torres da Silva
Presidente do Conselho Nacional.






SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO
EVOLUÇÃO NO MUNDO


1833 – 1.ª Conferência (Saint-Ètiene du Mont) em Paris
1834 – Elaboração da 1.ª Regra
1841 – Fundam-se 25 Conferências em Paris e 30 no resto de França
1842 – A S.S.V.P. entra em Itália
1843 – A S.S.V.P. entra na Bélgica, Escócia e Irlanda
1844 – A S.S.V.P. entra em Inglaterra
1845 – A S.S.V.P. chega aos E.U.A. e México
1846 – A S.S.V.P. chega à Alemanha, Países Baixos, Suécia e Turquia
1847 – A S.S.V.P. entra na Suíça e Canadá
1850 – A S.S.V.P. entra na Áustria e Espanha
1856 – Surge a 1.ª Conferência Feminina em Bolonha, fundada por Celestina Scarabelli



SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO
EVOLUÇÃO EM PORTUGAL



1859 – A S.S.V.P. entra em PORTUGAL pela mão de Padre Sena de Freitas, Padre Miel, Conde de Aljezur e outros e funda-se a primeira Conferência em Lisboa
1875 – É fundada a 2.ª Conferência, no Funchal
1877 – É fundada a 3.ª Conferência, em Braga
1879 – É fundada a 4.ª Conferência, no Porto
1887 – É fundada a 1.ª Conferência Feminina, no Porto
1908 – É fundada o Conselho Superior Masculino Português e, posteriormente, funda-se o Conselho Superior Feminino Português.
1976 – É fundada o Conselho Nacional de Portugal, que resultou da fusão dos Conselhos Superiores Masculino e Feminino Portugueses.




A ESPIRITUALIDADE VICENTINA É:


A espiritualidade cristã revelada por Cristo como evangelizador dos pobres. É a espiritualidade cristã vivida por São Vicente de Paulo que nos faz entender e conhecer o «Cristo Vicentino», aquele Cristo que «caminhou e trabalhou como nós», Aquele Cristo sem ceptro e sem coroa, que não está sentado sobre o globo, que suportou o peso da cruz de todos os que sofrem, de todos que pecam, de todos que são pobres… e ressuscitou para nos oferecer a Esperança.

Espiritualidade vicentina é a espiritualidade que levou Ozanam a criar as Conferências de São Vicente de Paulo que colocam cristão-leigos em permanente disponibilidade para aliviar o sofrimento e a pobreza, despertando a vocação e missão da Sociedade de São Vicente de Paulo.


AMAR E SERVIR A DEUS,
AMANDO E SERVINDO DIRECTAMENTE OS POBRES.





ERA UMA VEZ …


O jovem António Frederico Ozanam, aos 18 anos (1831), deixou Lyon para frequentar em Paris a Universidade (primeiro Direito e depois Letras, cursos em que, após as licenciaturas, veio a doutorar-se). Ficou dolorosa e profundamente impressionado pelo clima anticristão, anticlerical e anti Igreja que encontrou, especialmente no meio académico da Sorbonne, quer entre os alunos, quer entre os professores.

Reagiu e protestou sempre aos ataques à Igreja o jovem Ozanam, tendo marcado a sua posição de católico firme, de visão verdadeiramente profética, tendo escrito, aos 18 anos, um artigo notável sobre a doutrina de Saint-Simon (filósofo francês).

Desde então, como escritor, historiador, jurista, político, jornalista e professos de Direito ou de Letras, centrou as suas atividades e estudos em temas religiosos, sempre no propósito de demonstrar o papel relevante, único mesmo, da Igreja de Cristo na civilização humana.
Várias foram, aliás, as experiências tentadas por Ozanam com esse propósito, nomeadamente nas «Conferências de História», concluindo que todas estas se reduzem sempre a teóricas e estéreis polémicas.
A publicação do artigo «Palavras de um crente», da autoria de Lamennais, provocou acesas polémica nas «Conferências de História», originando a conhecida pergunta – desafio então lançado aos seus componentes: «Sem dúvida que a Igreja Católica tem tido uma acção relevante ao longo da história dos homens, mas hoje ONDE ESTÃO AS PROVAS DA VOSSA FÉ? …», AO QUE Ozanam respondeu, por sugestão de alguns dos seus amigos e companheiros: «Pois vamos aos pobres, como Nosso Senhor Jesus Cristo, pregar junto deles o Evangelho». Ozanam concluía que era necessário agir, como o próprio Cristo que Se tornou homem, aceitou ser ofendido, humilhado e torturado até à cruz, para que entendêssemos que é preciso amar e servir todo o Próximo como Ele serviu e amou.
Apenas se poderá testemunhar o nosso AMOR A DEUS E PROVAR A NOSSA FÉ, de forma expressiva e conveniente e, através da oração, da transformação em atos dos princípios de justiça e caridade, de igualdade e fraternidade.
Humildes como os doze Apóstolos, longe estavam Bailly, Letaillandier, Lallier, Clávé, Devaux, Lamache e Ozanam de aperceber-se da universalidade da mensagem que em suas almas fora gerada. E assim se funda, em abril de 1833, a primeira «Conferência».
Desde o início e por iniciativa de Ozanam, a nova Sociedade foi colocada sob a dupla proteção de San Vicente de Paulo (de quem tomou o nome) e da Virgem Maria.





COM HUMILDADE E ESPÍRITO DE POBREZA, JUVENTUDE E ALEGRIA;


CRIATIVIDADE, DINAMISMO E OUSADIA CENTRANDO A SUA AÇÃO NA TRADICIONAL VISITA DOMICILIÁRIA;

NUNCA ESQUECENDO QUE A SEU LADO PODE ESTAR O «SEU PRÓXIMO» (AQUELE QUE MAIS PRECISA DE NÓS).




ORGANIGRAMA
DA SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO






A AÇÃO DA SOCIEDADE
DE SÃO VICENTE DE PAULO (S.S.V.P.)



Desde a simples oferta de «umas achas de lenha» - oferta inicial de Ozanam às famílias que primeiro visitou em Paris – às ofertas de roupa, livros, medicamentos, ajuda na procura de empregos e internamentos, visitas a lares, hospitais, cadeias, ou à fundação das chamadas «obras especiais» (obras de ação especializada e individualizada: lares de 3.ª idade; centros de dia; slas de estudo; cantinas; lares para jovens; creches; infantários; jardins de infância; colónias de férias; etc), a ação vicentina procura ser a resposta oportuna para cada situação de sofrimento ou pobreza que a detecta – resposta mais ou menos imediata, ou de simples encaminhamento das situações mais difíceis para as vias possíveis de resolução, inquietando consciências indiferentes, apesar de responsáveis, mas com possibilidade de resposta à situações de pobreza e sofrimento.

A ação vicentina preocupa-se com a promoção do homem na sociedade através de um sentimento de afeto e respeito pela dignidade de cada pessoa, da oferta de amor, a que todos têm direito, da compreensão e recetividade a uma confidência ou a um desabafo, um conselho com uma palavra amiga, um olhar carinhoso, motivos de fé e de esperança.





A S.S.V.P. CARACTERIZA-SE PELA SUA ESTRUTURA PRÓPRIA *

«CONFERÊNCIA»
Célula-base de toda a vida da S.S.V.P.


CONFERÊNCIAS – Unidade de base da sua ação direta, como escola, formação, santificação e centro programador da ação perante os casos de pobreza detetados e analisados.

- Grupos de pessoas animadas por um espirito de fraternidade e simplicidade cristã que, fazendo parte de um movimento católico internacional, terão sempre presente a Regra da S.S.V.P.

- O objetivo das suas reuniões sará a santificação dos seus membros, sendo a assistência material o seu fim secundário, tendo sempre presente o espírito de justiça e caridade cristãs.

Como funcionam?

Num espírito de verdade fraternidade, tendo como finalidade o aprofundamento do amor ao próximo, seguindo em tudo a Regra da S.S.V.P., para que haja uma verdadeira unidade entre todas as Conferências, em qualquer lugar do mundo em que se encontrem.

Ordem das Reuniões

- Oração da Regra
- Leitura Espiritual; comentário
- Leitura da ata da reunião anterior e feitura da ata do dia
- Partilha das experiências semanais das visitas domiciliárias, da ação evangelizadora, junto das famílias visitadas.
- Coleta (secreta)
- Oração final.


DEVERES


VISITA DOMICILIÁRIA – É o serviço especial e direto, por ser a mais rica e mais completa forma de relação pessoal e é considerado o processo tradiocional da atuação Vicentina. Permite acompanhar junto dos assistidos a evolução da pobreza na humanidade.

- Devem os Vicentinos (membros da Conferência) em tudo estar ligados aos seus Conselho Particulares e centrais, para que a S.S.V.P., seja una, só assim se compreende a inter-ajuda e a inter-partilha de experiências;

- Deve existir um verdadeiro espírito de amor, tendo sempre presente que a caridade começa para com aquele que estrá ao nosso lado;

- Devem relatar (através de relatórios, quadros estatísticos, etc) para os seus Conselhos Particulares (hoje Zona) e Conselhos Centrais todas as experiências relevantes;

- Devem participar em todas as reuniões e assembleias propostas pelos Conselho de que dependem.






CONSELHOS

- Coordenam, orientam, dinamizam, estruturam, informam e formam a S.S.V.P., a cada nível.



OBRAS ESPECIAIS

- Fundadas, Geridas e mantidas pela S.S.V.P., que têm vida própria, tal como infantários, creches, lares e centros de dia, roupeiros, cantinas, casas de trabalho, etc., etc.


*- O suporte jurídico da S.S.V.P. em Portugal é assegurado pelas Associações das Obras Assistenciais e das Obras Sociais.



ANTÓNIO FREDERICO OZANAM – FUNDADOR



1813 – 23 de Abril, em Milão, então sob domínio francês, nascia António Frederico Ozanam, filho do médico João António Ozanam e de Maria Dantas;
1816 – A família transferiu-se para Lyon, onde Frederico Ozanam fez os seus estudos no Colégio Real;
1831 – Foi para Paris por desejo de seu pai, estudou direito;
1833 – Fundou a S.S.V.P., formando a 1.ª Conferência da Caridade;
1836 – Doutorou-se em direito;
1839 – Doutorou-se em Letras (além do Francês dominou Inglês, Alemão, Italiano e Espanhol. Quis também estudar hebraico e sânscrito);
1840 – Nomeado professor na Sorbonne (Paris);
1841 – Casou com Amélia Soulacroix (do casamento nasceu uma filha: Maria);
1853 – Faleceu a 8 de Setembro, em Marselha;
1925 – Em 25 de Março foi iniciado o processo da sua Beatificação;
1993 – Em 6 de Julho é proclamado «Venerável»;
1996 – Em 25 de Junho o Papa João Paulo II assina o Decreto de Beatificação;
1997 – Em 22 de Agosto beatificação, em Paris, por sua Santidade.




PENSAMENTO DE OZANAM

Para que todo o apostolado seja abençoado pelo Senhor uma coisa é necessária: as obras de beneficência. A bênção do pobre é a bênção de Deus.

Aprendamos, na nossa visita ao pobre, que ganhamos mais com esta do que com ele, porque a presença da sua miséria servirá para nos tornarmos melhores.

A filantropia é uma mulher vaidosa que considera as boas ações como uma espécie de adorno e que gosta de rever-se ao espelho.

A caridade é uma mãe carinhosa que tem os olhos cravados no filho que leva ao seio, que não pensa em si e esquece a sua beleza pelo seu amor.

Não é uma frágil o que necessitamos para nos servir de apoio na nossa jornada terrena. Serão antes duas asas, dessas que os anjos têm: A Fé e a Caridade.

Não vejamos nos nossos triunfos um fim, aceitemo-los apenas como um motivo de estímulo.





SÃO VICENTE DE PAULO – PATRONO 




A 24 de Abril de 1581, em Pony, hoje (Saint-Vicent-de-Paul) na França, nascia Vicente de Paulo, filho de modestos lavradores;
Estudou Teologia em Toulouse e foi ordenado padre em 1600 a 23 Setembro com 19 anos;
Viveu em Paris, foi preso e levado por piratas para África, onde foi vendido como escravo, acabando o seu cativeiro com a conversão do seu senhor, calvinista convertido;
Em 1612 é nomeado pároco de Clichy em París.
Nomeado Capelão Geral dos condenados às galés;
Foi Capelão da Corte, assistindo a Luís XIII no seu leito de morte, tendo sido preceptor da família dos Gondi;
Em 1643, fez parte do Conselho de Consciências;

Fundou em:

1617 a 25 Janeiro Congregação da Missão ou "Lazaristas;
1617 a 23 Agosto a Congregação da Caridade, cujo as associadas tomaram nome de "Servas dos Pobres" de certo modo gérmen das Conferências Vicentinas e reconhecidas em novembro pelo bispo de Lião, 
As Senhoras da Caridade hoje conhecidas como AIC-Associação Internacional da Caridade;
1625 a 17 Abril tem aprovação oficial a Congregação da Missão;
1633 a Congregação das Filhas da Caridade cujas raparigas recebem formação confiadas a Santa Luisa de Marillac (1591-1660);
1638 a Obra das crianças abandonadas (por isso o representam com uma criança);
1646 a Congregação Filhas da Caridade torna-se oficial pelo arcebisbo de París;
1654 o Hospital do Santo Nome de Jesus em Paris;
1660 morre no dia 27 de Setembro;
1737 em Roma é reconhecida a sua Santidade;
1855 o Papa Leão XIII declara São Vicente de Paulo Patrono de todas as Obras de Caridade.




PENSAMENTOS DE SÃO VICENTE DE PAULO



Vendo um dia a qualidade de víveres levados a uma família necessitada, São Vicente de Paulo disse: eis uma grande caridade, porém mal regrada. Estes pobres doentes, tendo tantas provisões ao mesmo tempo, deixarão muita coisa perde-se e depois disto cairão na mesma necessidade.

A caridade não pode ficar ociosa, impele-nos a procurar a salvação e o bem-estar dos outros.

Vou tratar destes pobres, para honrar neles a sabedoria incriada de um Deus que quis passar por um louco.

Será permitido deixar de fome um pobre homem porque é de outra religião? Sará precioso abjurar (renunciar uma religião), para comer.

O cristianismo não consiste em palavras e em exterioridades, mas nos factos e nos corações.

A simplicidade não nos obriga a descobrir todos os nossos pensamentos; porque esta virtude nunca foi contrária à prudência. Nunca se devem dizer aos coisas que se sabem, quando são contra Deus ou contra o próximo.





terça-feira, 23 de agosto de 2016

As bases de acção das Conferências

A S.S.V.P. CARACTERIZA-SE PELA SUA ESTRUTURA PRÓPRIA *

CONFERÊNCIAS - Unidade de base da sua acção directa, como escola, formação, santificação e centro programador da acção perante os casos de pobreza detectados e analisados.

- Grupos de pessoas animadas por um espírito de fraternidade e simplicidade cristã que, fazendo parte de um movimento católico internacional, terão sempre presente a Regra da S.S.V.P.

- O objectivo das suas reuniões será a santificação dos seus membros, sendo a assistência material o seu fim secundário, tendo sempre presente o espírito de justiça e caridade cristãs.

Como funcionam?

Num espírito de verdadeira fraternidade, tendo como finalidade o aprofundamento do amor ao próximo, seguindo em tudo a Regra da S.S.V.P. para que haja uma verdadeira unidade entre todas as conferências, em qualquer lugar do mundo em que se encontrem.

Ordem das Reuniões

- Oração da Regra
- Leitura Espiritual; comentário
- Leitura da ata da reunião anterior e feitura da ata do dia
- Partilha das experiências semanais das visitas domiciliárias, da ação evangelizadora, junto das famílias visitadas
- Coleta (secreta)
- Informações
- Oração final.



DEVERES

VISITA DOMICILIÁRIA - É o serviço e directo, por ser a mais rica e mais completa forma de relação pessoal e, é considerado o processo tradicional da actuação vicentina. Permite acompanhar junto dos assistidos a evolução da pobreza na humanidade.

- Devem os vicentinos (membros da Conferência) em tudo estar ligados aos seus Conselhos de Zonas e Centrais, para que a S.S.V.P., seja una, só assim se compreende a interajuda e a inter-partilha de experiências;

- Deve existir um verdadeiro espírito de amor, tendo sempre presente que a caridade começa para com aquele que está ao nosso lado;

- Devem relatar (através de relatórios, quadros estatísticos, etc) para os Conselhos de Zona e Centrais todas as experiências relevantes;

- Devem participar em todos as reuniões e assembleias propostas pelos Conselhos de que dependem.


CONSELHOS

- Coordenam, orientam, dinamizam, estruturam, informam e formam a S.S.V.P., a cada nível.


OBRAS ESPECIAIS


- Fundadas, Geridas e mantidas pela S.S.V.P., que têm vida própria, tal como infantários, creches, lares e centro de dia, roupeiros, cantinas, casa de trabalho, etc., etc.

* - O suporte jurídico da S.S.V.P., em Portugal é assegurado pelas Associações das Obras Assistenciais e das Obras Sociais.

                      

terça-feira, 16 de agosto de 2016

O dia em que me tornei Invisível

« Em épocas que a juventude (não tenho nada contra eles), junta-se em grupos à procura de Pokémon's, cá pelo nosso país, vou contar-vos uma história, cuja a personagem feminina, passou-se no México, diferente, mas que serve para que descemos à terra e tornemo-nos reais, palpáveis, de aquilo que pode acontecer e faço votos que não veja, mas, pelo silêncio em casa quando visito e ou com a pressa dos miúdos em pisgarem-se para o quarto verem a TV' já não me admira!...» 


Já não sei em que dia estamos. Lá em casa não há calendários e, na minha memória, as datas estão todas misturadas.
Recordo-me daquelas folhinhas grandes, uns primores, ilustradas com imagens dos santos que colocávamos no lado da penteadeira. Já não há nada disso. Todas as coisas antigas foram desaparecendo.
E sem que ninguém desse conta, eu fui-me apagando também…
Primeiro trocaram-me de quarto, pois a família cresceu.
Depois passaram-me para outro lado menor com a companhia das minhas bisnetas.
Agora ocupo uma água-furtada, que está no pátio de trás. Prometeram trocar o vidro quebrado da janela, porem esqueceram-se e todas as noites por ali circula um ar gelado que aumenta as minhas dores reumáticas. Mas tudo bem…
Desde há muito tempo que tinha a intenção de escrever, porém passava semanas procurando um lápis. E quando o encontrava, eu mesmo voltava a esquecer onde o tinha posto. Na minha idade as coisas se perdem facilmente: claro, não é uma enfermidade delas, das coisas, porque estou segura de tê-las, porém sempre desaparecem.

Noutra tarde dei-me conta que a minha voz também tinha desaparecido. Quando eu falo com os meus netos ou com os meus filhos não me respondem. Todos falam sem me olhar, como se eu não estivesse com eles, escutando atenta o que dizem.
Às vezes intervenho na conversação, segura de que o que lhes vou dizer não ocorra a nenhum deles e, de que lhes vai ser de grande utilidade. Porém, não me ouvem, não me olham, não me respondem.
Então cheio de tristeza retiro-me para o meu quarto e vou beber a minha xicara de café. E faço assim, de prepósito, para que compreendam que estou aborrecida, para que se deem conta de que me entristecem e venham buscar-me e me peçam perdão… Porém ninguém vem…

Quando o meu genro ficou doente, pensei ter a oportunidade de ser-lhe útil, levei-lhe um chá especial que eu mesmo preparei. Coloquei-o na mesinha e sentei-me a esperar que o tomasse, só que ele estava vendo televisão e nem um só movimento me indicou que se dera conta da minha presença. O chá pouco a pouco foi esfriando… e junto com ele, meu coração….
Então noutro dia disse-lhes que quando eu morresse todos iriam arrepender-se.
Meu neto mais novo disse: “Ainda estás viva vovó?”.
Eles tanta graça, que não pararam de rir. Três dias estive chorando no meu quarto, até que numa manhã entrou um dos rapazes para retirar umas rodas velhas e nem o bom dia me deu.

Foi então quando me convenci de que sou invisível…

Parei no meio da sala para ver, se me tornando um estorvo me olhavam. Porém, a minha filha seguiu varrendo sem me tocar, os meninos correram à minha volta, de um lado para o outro, sem tropeçar em mim.
Um dia os meninos agitaram-se e, vieram-me dizer que no dia seguinte nós iríamos todos um dia no campo. Fiquei muito contente. Fazia tanto tempo que não saía e mais ainda ia ao campo!
No sábado fui a primeira a levantar-me. Quis arrumar as coisas com calma. Nós os velhos tardamos muito em fazer qualquer coisa, assim adiantei meu tempo para não os atrasar.
Rápido entravam e saíam da casa correndo e levavam as bolsas e brinquedos para o carro. Eu já estava pronta e muito alegre, permaneci no saguão a esperá-los.
Quando me dei conta eles já tinham partido e o carro desapareceu envolto em algazarra, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não coubesse no carro…
…Ou porque os meus passos tão lentos impediriam que todos os demais caminhassem a seu gosto pelo bosque. Senti claro como o meu coração se encolheu e a minha face ficou tremendo como quando a gente tem que engolir a vontade de chorar.

Eu entendo-os, eles vivem o mundo deles. Reem, gritam, sonham, choram, abraçam-se, beijam-se. E eu já nem sinto o gosto de um beijo.
Antes beijava os pequeninos, era um prazer enorme tê-los em meus braços, como se fossem meus. Sentia a sua tenrinha e a sua respiração doce bem perto de mim. A vida nova produzia-me um alento e até me dava vontade de cantar canções que nunca acreditara lembrar-me.
Porem, um dia a minha neta Laura, que estava de ter um bebê disse que não era bom que os anciãos beijassem os bebês, por questões de saúde…
Desde então já não me aproximei deles, não quero passar-lhes algo mau por minhas imprudências. Tenho tanto medo de contagia-los!

Eu bendigo-os todos e perdoo-lhes, porque…
“Que culpa têm os pobres de que eu me tenha ternado invisível?”


Artigo: por Silvia Peral *
* Cidade do México

sábado, 23 de julho de 2016

Virtudes da Espiritualidade Vicentina

Simplicidade

A virtude da Simplicidade educa-nos na capacidade de desenvolver os valores da verdade, da sinceridade, da transparência. Viver plenamente a simplicidade nos ajudará a evitar ser falsos uns com os outros e muito menos com o povo; por esta virtude somos chamados a ser simples, a dizer as coisas como são, sempre com sinceridade em relação à outra pessoa.

Diante dos desafios que o pluralismo de ideias e de valores e contra-valores que a sociedade capitalista nos impõe, precisamos de estar mais atentos em relação à nossa postura junto ao povo e o cultivo de valores que não são transitórios, mas base para a vida com dignidade. O povo ao qual procuramos evangelizar se aproximará de nós mediante nossa postura diante dele. A simplicidade impregnada em nossos actos possibilitará essa pedagógica aproximação do povo mais simples a nós e vice-versa.

O próprio São Vicente definiu na sua vivência a importância desta virtude na vida de um Vicentino:"A simplicidade é a virtude que mais amo, eu a chamo de meu evangelho" (svI,284).

Humildade

São Vicente de Paulo define a Humildade como a virtude que dá a característica essencial à missão na Pequena Companhia. A humildade é a virtude que nos toma capazes de reconhecer e admitir nossas fraquezas e limitações, criando assim a possibilidade de confiar mais em Deus e menos em nós mesmos.

A humildade ajude-nos a nos livrar-nos da nossa autossuficiência, a reconhecermos nossa dependência do amor do Criador e nossa interdependência comunitária. Ao mesmo tempo, a humildade nos capacita para reconhecer nossos talentos, talentos que devem ser postos a serviço das outras pessoas.

É a virtude que permite aos pobres aproximar-se de nós. É a virtude que nos ajuda a ver que nos ajuda a ver que todos somos iguais aos olhos de Deus. A viência desta virtude educa-nos e capacita-nos, em contrapartida, para aproximar-se progressivamente dos Pobres. Esta virtude nos impulsiona a um processo contínuo de inculturação no mundo dos pobres, encorajando-nos a um esforço de identificação com os mesmos.

Mansidão

Etimologicamente, mansidão vem de “mansuetude” e manso de “mansus”, forma do latim vulgar de “mansuetus”. Tem um significado de comportamento aconchegante, familiar, doméstico. Conceptualmente, a mansidão se entende como a força, a virtude, que permite a pessoa moderar rapidamente a sua ira e indignação. A razoável indignação pode ser com frequência sã e saudável, transposição licita da sobrecarga psicológica a um ato de zelo pela glória de Deus, pela justiça ou pelo bem do próximo.

A mansidão não é agressiva, raivosa, barulhenta. Certamente é uma virtude chave na comunidade. É a virtude que ajuda a construir a confiança de uns nos outros, porque, quando somos amáveis, os que são tímidos se abrirão em relação a nós. Por estas razões podemos dizer que a mansidão é a virtude por demais vocacional, como constatou o próprio São Vicente: “Se não se pode ganhar uma pessoa pela amabilidade e pela paciência, será difícil consegui-lo de outra maneira” (SV VII,226).

A mansidão inspira um trato suave, agradável, educado e fundamenta a tolerância, valor este muito importante para a convivência em uma sociedade plural em que o respeito à pessoa e à sua liberdade deve ser uma lei indiscutível.

 Mortificação

Por esta virtude somos interpelados a morrer para nós mesmos. É a virtude que pede que nos entreguemos totalmente, pensemos primeiro nos outros, pensemos especialmente nos Pobres antes de pensar em nós mesmos. Esta virtude educa-nos para o altruísmo em detrimento do nosso egocentrismo.

Assim nos diz São Vicente: “Os santos são santos porque seguem as pegadas de Jesus Cristo, renunciam a si mesmos e se mortificam em todas as coisas” (SV XII,227).


Zelo Apostólico

Podemos identificar o zelo apostólico com paixão pela humanidade. O zelo é a consequência de um coração verdadeiramente compassivo. Trata-se da paixão por Cristo, paixão pela humanidade e paixão especialmente pelo Pobre. O zelo é uma virtude verdadeiramente missionária. Expressa-se em forma de disponibilidade, de disposição para o serviço e a evangelização, mesmo quando as forças físicas já estão decadentes.

Assim sendo relacionado com o zelo está o entusiasmo, que leva à acção. Podemos entender o zelo como uma expressão concreta do amor efectivo, que é motivado pela compaixão, ou amor afectivo. O amor é inventivo ao infinito. (SVP)