sábado, 28 de abril de 2018

O VALOR DA ORAÇÃO NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA


Do Evangelho segundo S. João 20, 19-31 domingo 8 abril

Após a Ressurreição de Jesus os discípulos, passaram a reunirem-se no primeiro dia da semana que traduzida é o dia de Domingo. Ao lermos o texto os discípulos começaram a encontrar-se e reunidos num lugar seguro com medo da chegada dos judeus, aparece Jesus e dirigindo-se aos presentes diz: “A paz esteja convosco”. Mostrou as suas mãos e o seu lado e volta a repetir a saudação: «A paz esteja convosco».
O texto não diz, mas podemos traduzir hoje que Jesus logo ali, criou muitas dúvidas entre os presentes se realmente era o Jesus Cristo, se era mesmo como tinha dito que voltaria e Tomé bem duvidas teve.  ELE Jesus, de volta ao segundo encontro dirigindo-se de novo anuncia os deveres que os discípulos terão que ter a partir dessa altura, ao pregar pelo mundo. «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós» Dito isto soprou sobre eles e disse a seguir: «Recebei o Espírito Santo». Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles que retiverdes serão retidos…  
Tomé, já presente do primeiro dia da semana Domingo, duvidando se realmente era ou não que estava ali Jesus dizendo que só tocando introduzindo com os seus dedos nos cravos, é que acreditaria. Jesus responde-lhe e pede-lhe para que Tomé toca-se. Perplexo do momento por causa da sua dúvida de Fé… diz: «Meu Senhor e meu Deus»
Sobre esta parte do Evangelho de S. João, o que me merece na reflexão, não só o interesse de ser o dia de Domingo que qualquer cristão deve cumprir é, o sentido que poderíamos dar ao colocar como um exemplo passado numa das nossas paróquias.
Numa das nossas aldeias um pároco conhecendo todos os seus paroquianos, reparou que o sr. António (nome fictício), deixou de aparecer à missa, então o pároco resolve visita-lo, sentados próximos da lareira, em determinada altura o pároco pega numa acha, coloca-a mais ao lado. A conversa continua e passados uns minutos o pároco pega na acha e faz-lhe a pergunta: Vê esta acha sem chama já em cinca queimada, negra!
É o que acontece connosco quando não nos comprometemos com Deus nas orações e na Eucaristia, ficamos sem alegria, tristes, depressivos, distanciados de tudo e de todos, afastamo-nos de nós próprios com Deus e com a comunidade familiar.
Tomemos por outro lado outro exemplo bem mais do nosso tempo moderno. Sinto que alguns casais que não frequentam a Eucaristia Dominical, estão propensos a não conseguirem superar as arrelias próprias de um casal. Com a oração Deus, dá-nos forças para ultrapassar os obstáculos muitos são derivados de varias ordem; emprego, doenças, problemas do fora de sexualidade que tem levado a tantos divórcios, ao respeito mutuo.
Então que todos nós, peguemos, na “tocha em brasa”, levantemos bem alto e iluminemos os nossos pensamentos e desejos e digamos; se é isto que supera as dificuldades do modo de vida, se é isto que salva o meu casamento então, digamos: PRESENTE… Deus está à nossa espera ao domingo pois se nos dá sete dias da semana e vinte e quatro horas por dia, talvez consignemos arranjar, uma hora por semana de oração e encontro com o Senhor.


terça-feira, 3 de abril de 2018

Encurtar distâncias para vencer dificuldades


Capitulo III 
Transformação vicentina
No quotidiano do trabalho vicentino, junto das comunidades carentes, nossos esforços se concentram não só nos benefícios materiais que disponibilizamos aos que sofrem, mas também no apoio psicológico e na promoção espiritual.

Nesta lida, os(as) vicentinos(as) precisam estar constantemente atualizados e preparados para os desafios que se apresentam e que se tornaram cada vez mais complicados na medida em que a sociedade civil tem ficado mais complexa no mundo globalizado
Diante deste cenário, é preciso que os vicentinos cumpram com o seu papel social e institucional de serem a 2ponte” entre os que sofrem e os que nos pedem ajuda, o “elo” entre afortunados e vulneráveis, o “ponto de cruzamento” entre quem pode oferecer muito e os que não têm nada. Ou seja, nós, vicentino(a)s, existimos para encurtar as distâncias e ajudar as pessoas em situação de pobreza a vencer as dificuldades da vida. Sem essa caraterística, estaremos realizando um “ativismo cosmético”, que não enfrenta as raízes da exclusão, do preconceito e da miséria.
As Conferências Vicentinas precisam atuar com eficiência para vencer as dificuldades entre as classes sociais, buscando reduzir o abismo entre ricos e pessoas em situação de pobreza (material e espiritualmente falando). Encurtar essas distâncias significa criar um mundo mais justo, mais fraterno e solidário, em que todos são iguais, com as mesmas oportunidades de trabalho, acesso à educação e à saúde. Será que temos ajudado as famílias carentes a vencerem essa distância social? Temos facilitado esse difícil esforço, aplainando os caminhos e eliminando alguns empecilhos?
Outra distância a ser vencida é a da injustiça. Ozanam, sociólogo e pensador do século XIX, cofundador da S.S.V.P., não só abordava bem esse assunto (é considerado, inclusive, por seus estudos e ideias, um dos precursores da Doutrina Social da Igreja-DSI), como também sempre refletiu sobre as causas e as consequências da pobreza. Ajudar os assistidos a obter um benefício social do governo – a que eles têm direito, mas são desinformados – é um trabalho bastante meritório a ser desempenhado pelas Conferências. Seguro, desemprego, bolsa, família, cultura, benefício de ação continuada, entre tantos programas sociais, a) poderão atingir mais famílias se os vicentinos(a)s cumprirem bem com essas tarefas de identificar os necessitados e orientá-los a obterem tais benefícios. Temos agido assim, ou nos limitamos a entregar cestos básicos?
Uma terceira e importante barreira a ser vencida é acabar com a apatia e o desânimo que, não raro, rondam os ambientes das famílias assistidas e que podem impedir que um aconselhamento ou uma palavra amiga sejam frutíferos. Levantar o moral do carente, ajudá-lo a vencer o ciclo da miséria, resgatar a força da Igreja no seio daquela família mais necessitada e inseri-la na vida profissional são alguns exemplos de medidas que as Conferências podem fazer para melhorar a situação, bastante agravada pelo desemprego e falta de perspetivas. E isso só se consegue com muita dedicação, carinho, perseverança e, acima de tudo, confiança nas pessoas.
Contudo, para mim, a maior distância a ser vencida é de apenas 70 centímetros. Vou explicar-me. É a distância entre a nossa cabeça (cérebro) e nosso coração. Se conseguirmos mobilizar as pessoas ao nosso redor, compadecendo-as e estimulando-as a prestarem serviços voluntários a quem mais sofre, aí sim estaremos transformando a Terra e servindo efetivamente as pessoas em situação de pobreza, como Jesus Cristo nos pediu, serão eles que abrirão as portas do paraíso para nós (Mt 25,46). Esses 70 centímetros são cruciais para mudar o mundo.
Temos agido como “ponte” para os assistidos chegarem ao destino final (promoção humana) ou atuamos como meros “atravessadores” de bens materiais?
a)        EAPN-Portugal   

 Crónica Vicentina IV -CGI Renato Lima
      

domingo, 22 de outubro de 2017

Proposta Papa Francisco aos vicentinos

Adorar, acolher e ir é proposta do Papa aos vicentinos

O Santo Padre, Papa Francisco, falou aos vicentinos, através daqueles que no passado dia 14 de outubro se encontravam em Roma a participar numa importante assembleia, promovida pela Família Vicentina.
O Papa Francisco encorajou os milhares de vicentinos presentes "a continuar no caminho da caridade gerado por S. Vicente de Paulo" e centrou a sua intervenção em três verbos: "Adorar", "Acolher" e "Ir".

Adorar segundo Vicente de Paulo que fazia da oração a sua bússola de cada dia. "Adorar é pôr-se diante de Deus, com respeito, com calma e no silêncio, dando-lhe o primeiro lugar, abandonando-se com confiança". Esta abertura ao outro, é de acordo com o que disse o Papa, o que conduz ao verbo "acolher".

Acolher "é redimensionar-se a si próprio, endireitar o próprio modo de pensar, compreender que a vida não é minha propriedade privada e que o tempo não me pertence. Quem acolher renuncia ao EU e faz entrar na vida o TU e o NÓS". "O cristão acolhedor é um verdadeiro dom para a Igreja, porque a Igreja é Mãe e uma mãe acolhe a vida e a acompanha.". "Quem acolhe sem se lamentar é um filho realmente fiel à Igreja capaz de criar concórdia e comunhão e com generosidade semear a paz".

IR. O Papa falou da vocação do "Ir": "Vou ao encontro dos outros como quer o Senhor, levo este fogo da caridade ou fico fechado a aquecer à frente da lareira?"
O Santo Padre agradeceu aos Vicentinos por ser um movimento que percorre os caminhos do mundo e encorajou-os mais uma vez nesta caminhada, na adoração quotidiana do amor de Deus e a difundir esse amor pelo Mundo através da caridade, disponibilidade e concórdia, abençoando todos os que fazem parte do movimento vicentino e aos pobres que assistem.
É um assunto para reflexão e interiorização de todos nós.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Não amemos com palavras mas com obras

«Não amemos com palavras, mas com obras»
«Do Papa Francisco»

     Graças ao Senhor, muitas pessoas se encontram com Fé viva por meio da SSVP. É para nós Sociedade, louvor a Deus a confirmação que o caminho que percorremos está certo.
      Amar o pobre é o mesmo que como se ama a Deus e através dele, protegemos os mais fracos e desprotegidos. Todos sabemos que a caridade se faz dia-a-dia, mesmo que façamos estes dias de férias vicentinas como lhe querem rotular ao descanso. Mas Deus sabe bem o que faz, como «fez a SVP», deu-nos as voltas e lá estivemos a apoiar uma pessoa que pelo seu aspeto fisicamente um calmeirão, na casa dos 40 anos, mas diminuído moralmente e fisicamente pois parece uma pessoa na casa dos 60. Diminuído moralmente; porque ele como desabafo deixou-me um Apelo: «por favor ligue-me pois não tem ninguém como quem falar…» Diminuído fisicamente; porque foi-lhe amputado uma perna e como tal sente-se diminuído, deprimido, sobre a falta de um membro e perante os olhares dos outros. Ele olha para nós não de frente, mas de cabisbaixo… 
    O Para Francisco irá celebrar no próximo dia 19 novembro, instituído pela Carta Apostólica «Misericórdia et Misera» o “1.º Dia Mundial do Pobre”. Esperamos que ao ser instituído este dia seja marcante para toda a Igreja onde fazemos parte, um marco histórico para todos os cristão e sociedade civil.
    A convite do Papa Francisco fez apelo para que guardemos esse dia dedicado inteiramente aos nossos pobres, com muitos momentos de oração, convívio, solidariedade e “ajuda concreta”.
     O Domingo é dia do Senhor, por isso guarda esse dia para a Amar a Deus não através dos Pobres, mas com os Pobres. Será aqui, que debato com estas poucas palavra como reflexão, deixo a todos.
«por favor ligue-me para ter com quem falar!»
     É com esta frase como reflexão, vamos pensar um pouco nesta frase e pô-la em Obras de Caridade, no dia-a-dia e que não nos passe ao lado estes apelos semelhantes. Temos reafirmado que nas Obras que praticamos como vicentinos é no caminho que fazemos ao lado do Pobres, na visita, no viver um pouco as suas dores, é pratica da caridade, que fazemos o que os outros não sabem fazer: é substituirmos o estado do seu lugar, que não têm capacidade de saber. Amar. Um governo é uma instituição de homens frios, sem coração, sem alma. Como podemos entregar as nossas almas dos nossos pobres a pessoas sem rosto, e frias que se escondem nos gabinetes!
      Por último reforço o apelo feito (vêr o BP páginas 2 ao 7), o apelo do Papa dirigida aos irmãos; bispos, aos sacerdotes, aos diáconos – que, por vocação, têm a missão de apoiar os pobres – às pessoas consagradas, às associações, aos movimentos e ao vasto mundo do voluntariado, peço que se «comprometam para que, com este Dia Mundial dos Pobres», se instaure uma tradição que seja contribuição concreta para a evangelização no mundo contemporâneo.     

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Conferência Vicentina de São Vicente de Paulo

Conferência de São Vicente de Paulo
São Cristóvão de Mafamude
111 Anos
SSVP-SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO
Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), também conhecida por Conferências de São Vicente de Paulo ou Conferências Vicentinas, é um movimento católico de leigos que se dedica, sob o influxo da justiça e da caridade, à realização de iniciativas destinadas a aliviar o sofrimento do próximo, em particular os sociais e economicamente mais desfavorecidos, mediante o trabalho coordenado de seus membros.
História institucional.

A organização foi fundada em Paris a 23 de Abril de 1833, por um grupo de sete jovens universitários liderados por Frédéric Antoine Ozanam (1813-1853), estudante de Direito na Universidade de Sorbonne, um jovem na época com apenas 20 anos de idade. A organização adotou São Vicente de Paulo (1581-1660) como patrono, inspirando-se no pensamento e na obra daquele santo, conhecido como o Pai da Caridade pela sua dedicação ao serviço dos pobres e dos infelizes.
O lema da organização assenta na frase de São Vicente de Paulo:
A caridade é inventiva até ao infinito.
 
Os fundadores foram:
• Antônio Frederico Ozanam (1813-1853)
• Auguste Le Tailladier (1811-1886)
• François Lallier (1814-1887)
• Paul Lamache (1810-1892)
• Félix Clavé (1811-1853)
• Jules Devaux (1811-1881)
• Emmanuel Bailly (1794-1861)

A MISSÃO VICENTINA:
Desde a simples oferta de «umas achas de lenha» - oferta inicial de Ozanam às famílias que primeiro visitou em Paris - às ofertas de roupa, livros, medicamentos, ajuda na procura de empregos e internamentos, visitas a lares, hospitais, cadeias, ou à fundação das chamadas «obras especiais» (colabora com outras obras especializadas, religiosas e civis na sua área concelhia), a ação vicentina procura ser a resposta oportuna para cada situação de sofrimento ou pobreza que se deteta - resposta mais ou menos imediata, ou de simples encaminhamento das situações mais difíceis para as vias possíveis de resolução,(respeitando os princípios da Sociedade da não violação ao sigilo), inquietando consciências indiferentes, apesar de responsáveis, mas com possibilidade de resposta às situações de pobreza e sofrimento.

A ação vicentina preocupa-se com a promoção do homem na sociedade através de um sentimento de afeto e respeito pela dignidade de cada pessoa, da oferta de amor, a que todos têm direito, da compreensão e recetividade a uma confidência ou a um desabafo, um conselho com uma palavra amiga, um olhar carinhoso, motivos de fé e de esperança.

O Vicentino:
VIVE o Evangelho através de uma aspiração de vida mais evangélica.
DETECTA e serve diretamente as várias situações de pobreza, vivendo uma espiritualidade Cristã, à maneira de Vicente de Paulo e de Frederico Ozanam.
REVELA Cristo. O Cristo que serviu e amou a todos, principalmente os mais pobres.
OFERECE um testemunho de fé, mais por obras que por palavras em todo o contacto pessoal, numa mútua santificação.
COMPROMETE-SE a cumprir a Regra da S.S.V.P., que define a vocação e missão de Sociedade de São Vicente de Paulo.

A espiritualidade vicentina:
A espiritualidade cristã revelada por Cristo como evangelizador dos pobres, é a espiritualidade cristã vivida por São Vicente de Paulo que nos faz entender e conhecer o «Cristo Vicentino», aquele Cristo que «caminhou e trabalhou como nós». Aquele Cristo sem ceptro e sem coroa, que não está sentado sobre o globo, que suportou o peso da cruz de todos os que sofrem, de todos que pecam, de todos que são pobres... e ressuscitou para nos oferecer a Esperança. Espiritualidade Vicentina na: Simplicidade Humildade -Mansidão - Mortificação e Zelo Apostólico, é a espiritualidade que levou Ozanam a criar as Conferências de São Vicente de Paulo que colocam cristãos-leigos em permanente disponibilidade para aliviar o sofrimento e a pobreza, despertando a vocação e missão da Sociedade de São Vicente de Paulo.

AMAR E SERVIR A DEUS, AMANDO E SERVINDO DIRECTAMENTE OS POBRES. 


CONFERÊNCIA VICENTINA DE SÃO CRISTÓVÃO DE MAFAMUDE (V. N. GAIA)
A Conferência de S. Vicente de Paulo de São Cristóvão de (Mafamude) foi fundada no ano 1905 e em 09 de julho de 1906 conforme registo atribuída a carta de agregação.
Atualmente conta com 11 elementos no ativo e 2 vicentinos beneméritos. 

Reúne-se trimestralmente às sextas-feiras na 2ª e 3 semana de cada mês.
Fiel ao espírito dos seus fundadores, a Conferência esforça-se por se renovar sem cessar e por se adaptar às condições de mudança dos tempos. A nossa missão é estarmos sempre abertos às mutações da humanidade e às novas formas de pobreza que se possa identificar ou pressentir. Damos prioridade aos mais desfavorecidos e especialmente aos rejeitados pela sociedade. Tem sido uma missão árdua, pois infelizmente com os problemas financeiros que o país atravessa, cada vez mais surgem novos casos que necessitam de intervenção urgente. No entanto, temos conseguido chegar a todas as pessoas necessitadas e auxiliado no que mais precisam.

Atualmente este grupo de caridade vive de doações das pessoas da comunidade, de benfeitores que colaboram com dinheiro e com peditórios na paróquia, etc. A vocação dos membros da Sociedade, chamados Vicentinos é seguir Jesus Cristo servindo aqueles que precisam e, desta forma, dar testemunho do seu amor libertador, cheio de ternura e compaixão. Os confrades mostram a sua entrega mediante na visita ao domicilio no contacto pessoa-a-pessoa. O Vicentino serve com Esperança.

domingo, 2 de julho de 2017

O que sou hoje como Vicentino!

O que sou hoje como vicentino!

            No percurso do caminho como vicentino terei que recuar no tempo dos anos 60, na cidade do Porto, numa freguesia da Beira-Rio, de gentes que dedicava a sua vida a trabalhar como estivadores em carga e descargas de carvão, do bacalhau e os Barcos Rebelos que descarregavam nos Cais da Ribeira o Vinhos do Porto. Hoje os tempos são outros, outras vidas, hoje vive-se do turismo e de hotéis.
          Eu ainda jovem, recebi um convite para ir a uma reunião de vicentinos em São Nicolau, às terças-feiras. Lá fui nem sequer sabia em que me ia meter… Mas fui. Os meus primeiros passos como vicentino, aos 17 anos, foi passar a assistir a umas reuniões, depois pediram-me para fazer umas visitas a casa de pessoas “Os Pobres”.  Logo ensinaram-me que na missão de um vicentino nunca devia dizer a palavra “NÃO”, a não ser por motivos fortes pois ajudar uns pobres, os servir a Deus através deles.
          Os meus primeiros trabalhos como vicentino, passou na marginal da Foz do Douro na recolha de roupas, mobiliário entre outras, para o Farrapeiro. Depois percorri as ruas da paroquia: - Mercadores, Reboleira, o Cais da Ribeira, Av. Gustavo Eiffel e o Bairro do Barredo. Nas minhas deslocações que fazia estava longe de pensar que para “Ser Vicentino” passava pelas visitas ao domicílio, pensava eu, que era uma intromissão nas suas vidas privadas, mas na caminhada percebi que o fazer a “Visita ao domicílio estava o “chamamento de Deus” no serviço ao pobre, ir “cheirar” a pobreza, estava ali a Caridade.
          Muitas vezes a Conferência (como era pobre) o nosso pároco, graças a Deus hoje ainda vivo, (nos deixava fazer um peditório num dos ofertórios de uma das missas) e com algumas ajudas lá conseguíamos orientar as contas que, quase sempre a zero. Nesse tempo, recordo que o nosso assistente espiritual, nos dizia com esta frase: «Que não seja por falta de dinheiro que deixemos de fazer a Caridade». Às minhas visitas, algumas vezes não levava nenhuma saca com alimentos, não havia nessa altura abundância, levava a minha visita como jovem, a conversa e sei que a partir de determinada altura senti, que já não dava ir a casa de um pobre sem levar alguma coisa para eles comerem, partilhar. Pensei então; tenho que levar alguma coisita comigo. Estávamos nos anos 60 ao visitar uma família senti um vazio que pairava no ar pois no atendimento quando cheguei, reparei que um deles ao aperceber-se que era eu, encolheu os seus ombros olhou para o chão a memorar baixinho consigo: para que vem chatear-me se não me trás nada… Sem me desmanchar cumprimentei-o e o senhor com boa educação lá me atendeu: bom dia com um sorriso forçado…
          Em contrapartida um dia deram-me a tarefa de visitar o “Carlinhos da Sé”, no Barredo, uma figura típica da cidade, um senhor que tinha uma doença genética, problema que hoje seria resolvido com uma operação e mudança de sexo. Bom, o agradável dessa visita, sem levar a saca de alimentos o “Carlinhos da Sé”, ficou feliz contou-me a sua estória da sua saúde, desabafou que não tinha culpa de ser assim, chorou da sua má sorte da sua vida, mas compensou-me esta visita, este senhor, sem pedir nada recebeu-me de braços aberto para conversar comigo. Estava ali a verdade da chamada Caridade.
          Hoje como Vicentino da minha Conferência, já nos tempos de “fartura” visito um casal e a minha preocupação com eles e a promoção por uma vida melhor. Estou atento, aos movimentos de forma a que um dia possa dizer que a partir dessa altura consiga… com vontade dos próprios, devolver alguma dignidade e respeito que eles merecem e que possam não estar dependentes do pouco que lhe damos que, passem a ser homens e mulheres com direito e deveres a serem olhados como pessoas importantes e independentes. Não é fácil pois é uma família com alguma falta escolaridade, de recursos e falta de empregos; quatro adultos.

          Agora, nesta altura a minha caminhada foi mudando com mais responsabilidades pelas tarefas que exerço num conselho. Escolhi partilhar a pensar contribuir para que os meus caríssimos confrades, também, nos tempos de férias que se aproxima possam fazer uma paragem e pensar como vicentinos; «o que sou hoje como vicentino». São tarefas que estamos “Todos” comprometidos desde o nosso compromisso a Deus, à sociedade, aos pobres. O melhor e mais agradável no conselho é que eu tenho, uma equipa que trabalha comigo sempre disponível, com sentido pelos outros, pelo amor e com caridade que eu sinto a forma das suas decisões, é gratificante. “SVP é que tem a culpa disto tudo…”
          SVP não ficará certamente zangado comigo se lhe pedir um favor, mais um; que tenha paciência em me aturar e que também ajude todos os outros vicentinos.
          Hoje debate-se na sociedade o que andamos a fazer dizem; se calhar fazemos uma caridade assistencial, da saca de compras, do ir buscar às sedes. Poderemos ficar só com a distribuição das sacas, e desleixarmos com a visita ao domicilio distribuindo “Afetos”; ouvir, pensar, ajudar, sofrer com eles e dar ideias para que eles se possam libertar da sua condição dependência?... Hoje tenho insisto com escritos e com palavras para que os vicentinos façam o que S. Vicente de Paulo e Ozanam nos deixaram: A Visita Domiciliária.  
          Eu acredito que existe uma diferença como se faz e o modo como haja um vicentino na Caridade. No espirito do vicentino o serviço ao Pobre é dar-se no serviço de Deus, interagir com os pobres reconhecendo nas pessoas que tem habilidades físicas e mentais suficientes para sair das dificuldades.
          Recordo uma pequena passagem do filosofo, francês Fabrice Hadjad sobre a condição da mulher como mãe que do seu ventre tem um filho ele dizia: é preciso “Recolocar o Homem no Centro”. ele dizia uma Mãe, ama o seu filho ajudando-o, encaminha-o, tenta colocar o seu filho como homem e mulher no centro ensinando a tomar mais tarde as decisões, dando-lhes a dignidade de pessoa humana.

F.Teixeira      

  

quarta-feira, 21 de junho de 2017

O legado de Ozanam para os dias de hoje

      As Cartas de Ozanam foram os primeiros textos, além da Regra Vicentina, pelos quais tive a satisfação de conhecer o pensamento deste extraordinário e santo homem chamado António Frederico Ozanam, modelo de jovem, adulto, pai, profissional, marido, cidadão e fiel leigo comprometido.

      Em Cartas, Ozanam pode comunicar-se com liberdade e desenvoltura, dirigindo-se com simplicidade a seus amigos, conhecidos, parentes, religiosos e académicos. Até nas missivas de cunho profissional, encontramos o “tempero” das virtudes tão caras a Ozanam, sempre com elegância nas palavras, caridade no aconselhamento e esperança na mudança das estruturas sociais.

      Suas Cartas são estimulantes, reconfortantes, pedagógicas e, acima de tudo, verdadeiras orações. As frases que citamos, hoje em dia, mais expressivas de Ozanam, foram colhidas justamente das correspondências que ele escreveu. Que riqueza, que legado, que presente divino!

      Não podemos deixar de reconhecer o grande esforço literário que a família de Ozanam empreendeu para poder recolher os escritos dele, consolidando-se em livros. Sem essa investigação histórica, talvez hoje não pudéssemos saborear esse lindo conteúdo. Também não podia ser diferente: os ascendentes de Ozanam eram e literatos, assim como seus descendentes. Considero que o Espírito Santo, soprou forte sobre esta família, brindando-a com as características de perpetuação da memória e da transmissão do conhecimento. A humanidade agradece!

      As Cartas que Ozanam escreveu ao longo do século XIX são pérolas para nossa realidade. É como se ele tivesse deixado “sinais” para as gerações futuras sobre a maneira evangélica e caritativa de superar as dificuldades e ajudar àqueles que estão em situação de vulnerabilidade e de exclusão social. Ozanam, visionário e vanguardista, deixa para a posteridade suas Cartas e nos recomenda práticas adequadas para o mundo de hoje, tão maltratado pelo egoísmo, pela ganância, pelo poder e pelos holofotes da fama passageira.

      A leitura das Cartas de Ozanam nas Conferências Vicentinas é sempre propícia, especialmente quando celebramos a data do nascimento do principal fundador da sociedade de São Vicente de Paulo ou da criação da entidade. São datas memoráveis que não podemos passar em branco.

      Por fim gosto sempre de encerrar meus textos com algumas perguntas, para que nós, vicentinos do século XXI, possamos também refletir sobre a postura que adotamos, na condição de imitadores de Ozanam. Utilizamo-nos dos meios de comunicação, pessoais e coletivos, analógicos ou digitais, para disseminar a cultura da caridade? Usamos as redes sociais e a mídia para propagar a Boa Nova e libertar os oprimidos? Limitamo-nos a criticar o sistema económico e político, e não fazemos nada de concreto para alterá-lo o oferecer caminhos alternativos?

      Se Ozanam estivesse fisicamente entre nós, hoje, o que ele faria? Quantos e-mails (que são as “cartas virtuais” dos tempos presentes), não teria ele enviado aos quatro cantos do mundo para defender e proteger os mais necessitados? Somos vicentinos e, portanto, temos que ser “espelho” de Ozanam, usando especialmente as novas tecnologias a serviço dos Pobres.

      
Cronicas vicentinas de Renato Lima, Cgi