Capitulo
III
Transformação
vicentina
No quotidiano do trabalho vicentino,
junto das comunidades carentes, nossos esforços se concentram não só nos
benefícios materiais que disponibilizamos aos que sofrem, mas também no apoio
psicológico e na promoção espiritual.
Nesta lida, os(as) vicentinos(as)
precisam estar constantemente atualizados e preparados para os desafios que se
apresentam e que se tornaram cada vez mais complicados na medida em que a
sociedade civil tem ficado mais complexa no mundo globalizado
Diante deste cenário, é preciso que os
vicentinos cumpram com o seu papel social e institucional de serem a 2ponte”
entre os que sofrem e os que nos pedem ajuda, o “elo” entre afortunados e
vulneráveis, o “ponto de cruzamento” entre quem pode oferecer muito e os que
não têm nada. Ou seja, nós, vicentino(a)s, existimos para encurtar as
distâncias e ajudar as pessoas em situação de pobreza a vencer as dificuldades
da vida. Sem essa caraterística, estaremos realizando um “ativismo cosmético”,
que não enfrenta as raízes da exclusão, do preconceito e da miséria.
As Conferências Vicentinas precisam atuar
com eficiência para vencer as dificuldades entre as classes sociais, buscando
reduzir o abismo entre ricos e pessoas em situação de pobreza (material e
espiritualmente falando). Encurtar essas distâncias significa criar um mundo
mais justo, mais fraterno e solidário, em que todos são iguais, com as mesmas
oportunidades de trabalho, acesso à educação e à saúde. Será que temos ajudado
as famílias carentes a vencerem essa distância social? Temos facilitado esse
difícil esforço, aplainando os caminhos e eliminando alguns empecilhos?
Outra distância a ser vencida é a da
injustiça. Ozanam, sociólogo e pensador do século XIX, cofundador da S.S.V.P.,
não só abordava bem esse assunto (é considerado, inclusive, por seus estudos e
ideias, um dos precursores da Doutrina Social da Igreja-DSI), como também
sempre refletiu sobre as causas e as consequências da pobreza. Ajudar os assistidos
a obter um benefício social do governo – a que eles têm direito, mas são
desinformados – é um trabalho bastante meritório a ser desempenhado pelas
Conferências. Seguro, desemprego, bolsa, família, cultura, benefício de ação
continuada, entre tantos programas sociais, a) poderão atingir
mais famílias se os vicentinos(a)s cumprirem bem com essas tarefas de
identificar os necessitados e orientá-los a obterem tais benefícios. Temos
agido assim, ou nos limitamos a entregar cestos básicos?
Uma terceira e importante barreira a ser
vencida é acabar com a apatia e o desânimo que, não raro, rondam os ambientes
das famílias assistidas e que podem impedir que um aconselhamento ou uma
palavra amiga sejam frutíferos. Levantar o moral do carente, ajudá-lo a vencer
o ciclo da miséria, resgatar a força da Igreja no seio daquela família mais
necessitada e inseri-la na vida profissional são alguns exemplos de medidas que
as Conferências podem fazer para melhorar a situação, bastante agravada pelo
desemprego e falta de perspetivas. E isso só se consegue com muita dedicação,
carinho, perseverança e, acima de tudo, confiança nas pessoas.
Contudo, para mim, a maior distância a
ser vencida é de apenas 70 centímetros. Vou explicar-me. É a
distância entre a nossa cabeça (cérebro) e nosso coração. Se conseguirmos mobilizar
as pessoas ao nosso redor, compadecendo-as e estimulando-as a prestarem
serviços voluntários a quem mais sofre, aí sim estaremos transformando a Terra
e servindo efetivamente as pessoas em situação de pobreza, como Jesus Cristo
nos pediu, serão eles que abrirão as portas do paraíso para nós (Mt 25,46).
Esses 70 centímetros são cruciais para mudar o mundo.
Temos agido como “ponte” para os
assistidos chegarem ao destino final (promoção humana) ou atuamos como meros
“atravessadores” de bens materiais?
a)
EAPN-Portugal
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