Sacerdote da Prelatura Pessoal da Santa Cruz e Opus Dei
passou 10 dias ventilado, em coma induzido Sacerdote da Prelatura Pessoal da Santa Cruz e Opus
Dei passou 10 dias
Lisboa, 09 fev 2021 (Ecclesia) – O padre Miguel Cabral, da Prelatura Pessoal da Santa Cruz e Opus Dei, passou 10 dias ventilado em coma induzido, por causa da Covid-19, numa experiência de fragilidade, mas não de medo.
“Nunca tive medo de morrer. Tenho fé e pensei que não estava na minha perspetiva morrer já, nunca pensei que isso acontecesse. A preocupação maior era com o sofrimento que podia causar à família e amigos. A fragilidade mostra-nos que não somos o Criador, mas criaturas. Dependemos dos outros. Um pequeno vírus que não conhecemos, não o vemos nem sabemos como o apanhamos, faz-nos sentir pequeninos. Isto ajuda-nos a confiar mais em Deus”, conta o sacerdote à Agência ECCLESIA.
O padre Miguel Cabral
recorda ter sido no início de dezembro, “na véspera da solenidade da Imaculada
Conceição”, a origem dos sintomas, relacionados com um “estado gripal” que não
passava.
“Liguei para a linha de
saúde 24 e fui ao Hospital de Santa Maria onde fiquei dois dias. Regressei
a casa e passado quatro dias, com o agravamento da situação, falei com o médico
que me acompanha no hospital, e as coisas começaram a complicar-se”, recorda.
Pouco se lembra dos dias no
Hospital da Luz, onde esteve internado, antes de ser ventilado.
“Nesses cinco dias não me
recordo de quase nada. Ao fim desse tempo, fui agravando o estado geral, com
febre e falta de ar. Nas mensagens que enviava para a família e amigos eu dizia
que quase sufocava quando tossia. Não tenho recordação disso. Tenho uma vaga
ideia de um médico me dizer que estava a agravar e que ia passar para os
cuidados intensivos e depois, me dizer que me iam entubar. Eu disse: «façam o
que tiverem de fazer». Estive 10 dias ventilado, num coma induzido, mas não me
lembro de nada”, regista.
Da experiência de
fragilidade, o padre Miguel Cabral recorda a proximidade de Deus, dos amigos e
da família.
“Nunca me senti sozinho,
pela presença de Deus que senti ao meu lado. A última coisa que eu li, antes de
ser entubado, foi uma pequena carta que o prelado do Opus Dei me escreveu com
umas palavras muito amáveis que me fez sentir em família”, sublinha.
Ao acordar, sem ter noção do
tempo, o padre Miguel deu conta de ter recebido “2400 mensagens” que
transmitiam “esperança e sinais de amizade”.
“Este é um aspeto que eu
aprendi e continuo a faze-lo sobre a importância da família como da amizade, a
importância de cultivarmos as amizades”, explica.
A sua experiência pessoal já
foi ultrapassada, mas o sacerdote da Prelatura Pessoal da Santa Cruz e Opus Dei
admite que mais difícil é acompanhar o pai, que passou “16 dias em coma”,
também por causa da Covid-19.
“Custa mais a doença do meu
pai, outros doentes internados de quem vou sabendo e pelos quais vou rezando. A
dor dos outros custa mais, não poder fazer nada por eles. Desde que fiquei
doente, eu e a minha família todas as noites nos juntamos a rezar o terço às
21h30, agora com o pai que já recuperou, os filhos e os 23 netos”, regista.
Antes de ser ordenado
sacerdote, o padre Miguel Cabral foi médico oncologista e exerceu durante 10
anos a profissão, algo que, acredita, o pode ter ajudado a passar pela doença.
“Depois de estar mais de um
mês no hospital, 10 dias ventilado, que também isto me ajude a ser melhor
pessoa: a compreender melhor os outros, a sentir que vivemos uns para os outros
e que adquire maior sentido a minha vocação como padre, que é aquele que serve
os outros”, deseja.
O sacerdote explica a
importância do trabalho “bem feito”, com “competência”, mas com “sorriso e
simpatia, delicadeza no trato e respeito pela pessoa, nos pequenos gestos”,
considerando que a experiência de “estar do outro lado” pode ser “útil para
qualquer médico pensar no que é estar como doente”.
Ao longo desta semana, em
que se assinala o Dia Mundial do Doente, o programa Ecclesia na Antena 1 vai
valorizar testemunhos e mostrar os rostos de quem passou pela doença provocada
pela Covid-19.
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