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Um dos sentimentos mais dolorosos
que uma pessoa pode vivenciar é a ingratidão. Muito mais que a ira ou o
desamor, a ingratidão é como um ácido que corrói profundamente por dentro,
afectando o coração do individuo que sofreu tal dissabor: Porém, como
vicentinos que somos, ao buscarmos a santidade, temos que estar acima desse
sentimento nocivo, que às vezes percebemos no momento da visita, no
relacionamento com as famílias assistidas e até no seio da nossa entidade.
Certa vez, um Conferência, por ocasião do
Dia das Mães, decidiu doar Kits de cremes para embelezar as mães assistidas.
Grande foi a surpresa quando nem todas as senhoras beneficiadas disseram uma
palavra de agradecimento, como por exemplo: “muito obrigada!”. Nem um sorriso,
nem uma demonstração de afecto. Na verdade, são pessoas sofridas, que nem
sempre têm forças ou ânimo para a vida; mas daí demonstrar tamanha indiferença,
é uma dor muito forte para quem proporcionou aquele gesto genuíno de caridade.
O próprio Jesus Cristo também “reclamou”
dos ingratos. Ele mesmo, que era Deus, após curar dez leprosos, indagou porque
apenas um havia regressado para agradecer. E Jesus perguntou: “Onde estão os
outros nove?” (Lucas 17,17). Na caminhada vicentina, muitos “leprosos” passarão
por nós, mas poucos serão agradecidos. É bem verdade que fazemos esse trabalho
de caridade sem buscar reconhecimento ou gratidão; tais sentimentos são humanos
e fazem parte da educação das pessoas. O que pode nos consolar, um pouco, é que
uma pessoa ingrata é também vítima do problema, pois não teve acesso à cultura.
Ser grato a uma pessoa pode ser algo tão
simples para muitos, especialmente àqueles que tive acesso à educação e
nasceram numa família que lhes ensinou valores, princípios e posturas socias. É
bem verdade que boa parte dos socorridos de nossas Conferências não possui
essas características. É por isso que, juntamente com as cestas de alimentos e
outros bens materiais, os vicentinos devem levar “exemplos”, “conselhos”,
“orientações” e, acima de tudo, “ensinamentos”. Tudo o que dissermos de valores
e virtuoso a um assistido produzirá frutos no futuro.
Contudo, uma certeza pode-se ter: da
mesma maneira que Jesus ofereceu a “outra face” a quem lhe quisesse machucar
(Mateus 5,39), a ingratidão com que, às vezes, estamos sujeitos (pelos
assistidos, por alguns representantes da Igreja e pelos próprios companheiros
de caminhada vicentina), será a chave para abrirmos as portas do paraíso. Essa
ingratidão nos condecorará com um “diploma invisível de santidade”, que São
Vicente e Ozanam nos entregará quando estivermos entrando nos céus, um dia.
Qual é o pior defeito do ser
humano? – Como podemos lidar com essa situação nos trabalhos vicentinos,
especialmente junto aos assistidos?
Cronicas vicentinas de Renato Lima do Cgi
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