segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Segundo Compromisso: A mudança sistémica

2 – Segundo compromisso: a mudança sistémica

- Na base desta mudança de sistema, está um profundo respeito por toda a pessoa humana, na melhor linha do Ministério da Encarnação: desde o momento, em que Jesus se fez homem, o ser homem ou mulher é algo de empolgante e grandioso! Esta atenção por toda a pessoa intensifica-se na relação com os mais pobres e abandonados, já que são os membros mais frágeis e menos apresentáveis do Corpo de Jesus cristo. Não resisto a citar esse texto clássico de São Vicente: «Não devo considerar um pobre camponês ou uma pobre mulher, do exterior, nem segundo o que transparece da capacidade do seu espírito; tanto mais que, muitas vezes, quase nem sequer têm aspecto nem espírito de pessoas racionais, a tal ponto são grosseiras e terrenos. Voltai, porém, a medalha, e vereis, na luz da fé, que o filho de Deus, que quis ser pobre, nos é representado por estes pobres». (XI, 32).
- Quando Frederico Ozanam aborda os problemas graves das famílias pobres, não aceita que a sua pobreza se resolva apenas dando esmolas. Desafia os seus confrades e contemporâneos católicos a que olhem para as estruturas opressoras que são causadas da pobreza. Enquanto os políticos discutem maneiras de aliviar o sofrimento causado pelas situações de pobreza ou de miséria, Ozanam chama ardentemente a atenção para as causas dessa mesma miséria. Por outro lado, e apoiado no cristo do evangelho que escolheu gente simples para formar o primeiro grupo apostólico, o nossos bem-aventurado sabe colocar os mais pobres como fonte de inspiração. Na linha de vicente de Paulo que ia repetindo que «os pobres nos evangelizam», Ozanam escrevia em carta a Ernest Falconnet: «Tantas vezes sobrecarregado por um pesar interior, preocupado com a minha saúde periclitante, entrei, cheio de tristeza, na casa de um pobre confiado aos meus cuidados; e aí, à vista de tantos desafortunados, mais dignos de dó do que eu, censurei o meu próprio desencorajamento; senti-me mais forte contra a dor e agradeci a esse infeliz que me consolou e fortaleceu só com a visão de seus pobres sofrimentos».


- E nós, irmãos? Comprometemos os pobres na sua própria caminhada: identificação das necessidades, planificação, busca de soluções verdadeiramente humanas e cristãs, revisão de todo o processo?... Ou costumamos seguir o caminho mais cómodo e paternalista, de quem dá uma esmola, no intuito de calar algum sentimento de culpa ou por descargo de consciência? No fundo muito no fundo, é importante que nos perguntemos se já realizamos dentro de nós e em nossos grupos essa mudança essencial, que tem a ver com o Evangelho e com a nossa opção vicentina, segundo a qual o Reino de Deus é para todos, mas os mais abandonados têm lugar privilegiado à «Mesa do Reino». Para que tudo isto não fique em teorias, é necessários que os mais pobres venham, mesmo fisicamente, à mesa das nossas reflexões e projectos, para que sejam verdadeiramente senhores do próprio destino… Utopia? Talvez! Mas quem não sonha já morreu espiritualmente.!...  

Sem comentários:

Enviar um comentário