2 – Segundo compromisso: a
mudança sistémica
-
Na base desta mudança de sistema, está um profundo respeito por toda a pessoa
humana, na melhor linha do Ministério da Encarnação: desde o momento, em que
Jesus se fez homem, o ser homem ou mulher é algo de empolgante e grandioso!
Esta atenção por toda a pessoa intensifica-se na relação com os mais pobres e
abandonados, já que são os membros mais frágeis e menos apresentáveis do Corpo
de Jesus cristo. Não resisto a citar esse texto clássico de São Vicente: «Não
devo considerar um pobre camponês ou uma pobre mulher, do exterior, nem segundo
o que transparece da capacidade do seu espírito; tanto mais que, muitas vezes,
quase nem sequer têm aspecto nem espírito de pessoas racionais, a tal ponto são
grosseiras e terrenos. Voltai, porém, a medalha, e vereis, na luz da fé, que o
filho de Deus, que quis ser pobre, nos é representado por estes pobres». (XI,
32).
- Quando
Frederico Ozanam aborda os problemas graves das famílias pobres, não aceita que
a sua pobreza se resolva apenas dando esmolas. Desafia os seus confrades e
contemporâneos católicos a que olhem para as estruturas opressoras que são
causadas da pobreza. Enquanto os políticos discutem maneiras de aliviar o
sofrimento causado pelas situações de pobreza ou de miséria, Ozanam chama
ardentemente a atenção para as causas dessa mesma miséria. Por outro lado, e
apoiado no cristo do evangelho que escolheu gente simples para formar o
primeiro grupo apostólico, o nossos bem-aventurado sabe colocar os mais pobres
como fonte de inspiração. Na linha de vicente de Paulo que ia repetindo que «os
pobres nos evangelizam», Ozanam escrevia em carta a Ernest Falconnet: «Tantas
vezes sobrecarregado por um pesar interior, preocupado com a minha saúde
periclitante, entrei, cheio de tristeza, na casa de um pobre confiado aos meus
cuidados; e aí, à vista de tantos desafortunados, mais dignos de dó do que eu,
censurei o meu próprio desencorajamento; senti-me mais forte contra a dor e
agradeci a esse infeliz que me consolou e fortaleceu só com a visão de seus
pobres sofrimentos».
- E nós, irmãos?
Comprometemos os pobres na sua própria caminhada: identificação das
necessidades, planificação, busca de soluções verdadeiramente humanas e
cristãs, revisão de todo o processo?... Ou costumamos seguir o caminho mais
cómodo e paternalista, de quem dá uma esmola, no intuito de calar algum sentimento
de culpa ou por descargo de consciência? No fundo muito no fundo, é importante
que nos perguntemos se já realizamos dentro de nós e em nossos grupos essa
mudança essencial, que tem a ver com o Evangelho e com a nossa opção vicentina,
segundo a qual o Reino de Deus é para todos, mas os mais abandonados têm lugar
privilegiado à «Mesa do Reino». Para que tudo isto não fique em teorias, é
necessários que os mais pobres venham, mesmo fisicamente, à mesa das nossas
reflexões e projectos, para que sejam verdadeiramente senhores do próprio destino…
Utopia? Talvez! Mas quem não sonha já morreu espiritualmente.!...
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